quinta-feira, 8 de julho de 2010

O que fizeram com os heróis???

Depois da inundação de notícias, por todos os meios de comunicação possíveis, a respeito do desaparecimento de Eliza Samudio e de um desfecho que vai do cinismo ao terror, encontrei no texto "Poderes e Responsabilidades" do jornalista Gustavo Poli alguns trechos que mostram um pouco daquilo que eu, como mãe, filha, irmã, tia, madrinha, amiga e, antes de tudo, MULHER, penso sobre o assunto.

No mundo atual, ser famoso está cada dia mais fácil. Não precisa atuar como Tony Ramos para ser um "grande" ator, não precisa cantar como Elis Regina para ter disco de ouro e muito menos viver dentro das leis e da justiça para ter seu rosto estampado nas principais revistas e jornais do mundo.

Mas e as responsabilidades embutidas nos poderes adquiridos?

Qual exemplo servirá de modelo para os nossos filhos?

Minha tristeza nesse momento, é a lembrança insistente de uma música de um tal pequeno burguês que se vestiu de Poeta Romântico do rock nacional e viveu a irresponsabilidade até as últimas consequências:

"Meus heróis morreram de overdose. Meus inimigos estão no poder."

Quais serão as habilidades e os poderes dos heróis do futuro?

CORAGEM, RESPEITO e VERGONHA NA CARA, talvez...

: )


PODERES E RESPONSABILIDADES

Gustavo Poli

Quem acertou na mosca foi Ben, o tio de Peter Parker. Sabe, Peter Parker, aquele fotógrafo? Bom, pouco antes de expirar, Tio Ben olhou para seu sobrinho Pete e disse:

- Não se esqueça, Peter. Grandes poderes trazem grandes responsabilidades.

Peter Parker, nas horas vagas conhecido como Homem-Aranha, levou a lição consigo por toda sua vida de herói de quadrinhos e telinhas e telonas. Pois é, tio Ben estava certo, mais que certo. E é essa a lição que nossos heróis modernos teimam em não entender ou aprender.

Vivemos a era da celebridade veloz – um tempo em que evidência vale dinheiro. Mais que isso, uma era em que a vida alheia se tornou um objeto de consumo. A narrativa da vida real substitui a ficção. Fulana casou! Beltrana abriu seu apartamento! Sicrana emitiu um flato e moveu a sobrancelha!

A tragédia que tem como pivô o goleiro Bruno traz uma lição.

No filme “8 milímetros”, Nicholas Cage é um detetive que mergulha no submundo para investigar o assassinato de uma atriz pornô. Numa das cenas, ele se olha no espelho e ouve sua voz, em off, dizendo:

- Se você dança com o demônio, o demônio não muda. Mas você muda.

...

Quando um jogador de futebol se relaciona com bandidos… ele está chancelando, na mente de cada criança (favelada ou não), o tráfico como uma coisa cool. Está dizendo “esse cara aqui é maneiro”, assinando embaixo de uma pretensa rebeldia contra o “sistema”. Dizendo “eu venci, esses caras aqui também… eles também derrotaram esse sistema vil que nos condena – nós, favelados; nós, meninos pobres – à pobreza e à falta de oportunidade”.

Cada menino da favela vive, desde pequeno, esse mundo duplo – a atração do tráfico, do tênis maneiro, do dinheiro fácil… contra o mundo despossuído, da educação ruim, do trabalho escasso, das oportunidades poucas. Qual o significado na mente dessas crianças dessa imagem? O símbolo do sucesso “lá fora” ao lado do símbolo do poder “aqui dentro”?

No gibi número um do Homem-Aranha, acontece uma tragédia. O jovem Peter Parker, feliz com seus novos poderes, resolve ganhar dinheiro num festival de lutas. No caminho, vê um assalto, mas resolve não perseguir o ladrão, pensando “isso não é problema meu”. O mesmo bandido a seguir, assalta e atira em seu tio. Peter chega a tempo de ver o velho Ben Parker agonizando. E ouve, culpado, suas últimas palavras. Grandes poderes, grandes responsabilidades, Peter. Neste momento, no mundo maravilhoso da Marvel, o Homem-Aranha começa sua luta contra o crime.

Cada ídolo ou símbolo escolhe seu caminho. Você pode ser Pelé ou Maradona. Pode ser Michael Jackson ou Madonna. De alguma forma, você tocará milhares de pessoas – e de alguma forma elas serão influenciadas por suas mínimas atitudes – queira você ou não. Você pode não gostar disso, pode não querer isso, pode dizer “é minha vida, eu faço o que quiser”. Pode. É um direito. Quantos meninos estão olhando para suas camisas autografadas por Bruno, hoje, com horror?

Alguns escolhem a demagogia. Outros a hipocrisia. E há aqueles rebeldes quase sempre genuínos – como Romário. Todos são, afinal, humanos – erguidos por uma habilidade específica a um movediço panteão. Adriano e Vagner Love não são vilões modernos, pelo amor de todos os impérios (Bruno talvez seja, infelizmente). São ídolos imperfeitos – como Peter Parker, que deu de ombros. Dar de ombros tem preço, amigos. É essa lição que nossos heróis modernos precisam aprender.


O que você acha do pai que fuma diante do filho?

Ou se droga diante do filho?

Pois é.

: )

Um comentário:

  1. UAU, MULHER...VC FALOU TUDO AGORA!!!

    OS MEUS HEROIS MORRERAM MESMO DE OVERDOSE, SÓ Q NADA MUDOU PARA MELHOR NO MUNDO...ELES FUGIAM DE SUAS PROPRIAS REALIDADES E SE AFOGAVAM EM DEPRESSÃO. E NESSA PERDEMOS GRANDES NOMES...TRISTE DE VER!
    O TEXTO DO GUSTAVO POLI É PERFEITO!
    BEIJOS

    ResponderExcluir