terça-feira, 20 de abril de 2010

MAR E ILHA!!!



Assim que se lhes abrem os portões – um de ferro, outro de alumínio –, a ampla casa de seus avós maternos é invadida por uma lufada de alegria pueril que emerge dela, no alto dos seus quase dois anos e meio, e do irmão, mais velho que ela um pouco mais de três anos, que já entrou em disparada, não raras vezes sem sequer cumprimentar os que o recepcionam. Atualmente o vídeo game é quem o atrai.
- Vovô!!!
Agora bem agasalhada no braço direito do avô, depois de ter sido beijada no rosto e ouvido a mais antiga, natural e verdadeira declaração de amor – Eu te amo! –, ela responde, com estilo próprio, a primeira pergunta que sempre lhe é feita (Como foi no colégio hoje?):
- Cholei, palei, binquei. Aí, chamei mamãe, papai, vovô, vovó, João, Julinha, DéJúlyo...
- E a tia, como se chama? (Uma perguntinha que se repete desde o primeiro dia letivo, movida sempre pela beleza da resposta.)
- Verônkona... (Tradução: Verônica).
Juntam-se ao casal de primos, de idêntica faixa etária, e o ambiente parece mudar fisicamente: as portas se movem em cumprimentos afetuosos, as paredes transpiram felicidade em sorrisos quase imperceptíveis (sensibilidade é preciso!), o teto assume uma aparência multicolorida e mutante e o chão deixa-se atapetar-se em veludo azul-escuro. Sinto-me um poeta com a alma genuflexa ante seu poema predileto.
Ela é – e sabe ser – cativante. Afável e amável, dedica a mesma atenção a todos, de quem recebe carinho, afeição e os mais variados afagos.
Expande-se até – creio eu – os limites da sua exclusiva capacidade. Há um brilho especial nos olhos de jabuticaba, incrustados em um rosto revestido de pele trigueira, embelezado por nariz, boca e queixo de boneca e emoldurado por uma vigorosa manta de cabelos negros e encaracolados que descem até a metade das costas... uma mecha espiralada teima em espreguiçar-se entre os olhos.
De repente e sem se saber por que, retrai-se e busca o amparo da mãe. Já não aceita mais agrados. Parece buscar um isolamento que lhe propicie a recarga das baterias, para, em seguida, retomar o comportamento anterior.
Seja pela amplidão da sua afabilidade e poder de conquista, seja pelo movimento pendular – expandir-se e retrair-se – do seu comportamento, como ondas que vêm e que vão incansavelmente, ela é o MAR.
Dou-lhes, agora, um conselho: não tente apropriar-se do que ela entenda que lhe pertence. Assume a postura de mulher madura – no alto dos seus dois anos e meio, repito – e deixa transparecer um senso de defesa próprio das fêmeas. Em ocasiões assim, põe em prática uma estratégia que une o peculiar poder de retraimento e a imbatível disposição para a luta. Enfrenta mares revoltos. Sobressai altiva e forte. Ela é uma ILHA.
Para mim, ela é MAR, ela é ILHA.
MAR e ILHA.
MAR-ILHA.
MARÍLIA.

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